sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Para 2 amigos Virgens

Não, não estou a falar de amigos virgens, que ainda não tiveram a sua primeira experiência "amorosa", estou mesmo a falar de 2 amigos do signo virgem, esse signo que sempre que é dito leva a pessoas para 2ª interpretações, é ou não é? ou eu é que levo sempre para este lado? 

Ontem e hoje fazem anos pessoas muito especiais para mim, conhecia-os em tempos diferentes mas ambos muito importantes no meu dia a dia.

Ontem foi a A. que fez anos, a A. faz parte daquela família que já falei, a EA, ontem liguei-lhe e estava num dos sítios mais bonitos que já estive, praia de Murrebué - Pemba. Falamos até o dinheiro acabar nem sei se cheguei a dar-lhe os parabéns mas depois mandei sms e ficou resolvido =) Fiquei feliz por saber que tudo está a correr bem, as chapas, os grupos, as visitas, ter essa oportunidade de visitar os grupos não é para todos e quem tem essa oportunidade é um sortudo porque conhece 1 pouco mais daquele país que encanto quem lá passa.

A A. entrou na minha vida em 2007-2008, era uma pessoa que não era fácil de chegar pelo seu feitio muito especial mas por alguma razão (tive também esse papel é claro) fomos fazer missão juntos, Mecanhelas - Niassa. Foi a sua 1ª experiência juntamente com mais 2 manos, o C. e a B., os 3 são de 1 curso que comecei a olhar com outros olhos, não só por eles mas porque na minha primeira missão fui com a mana A.L. que também era desse curso, o curso é Psicomotricidade Humana, conhecem? Se não conhecem é um curso a conhecer e não estou a gozar!

Foi um projecto sem dúvida marcante a vários níveis, não só pelos manos mas também pelo local, pela equipa missionária, por todas as partilhas, por tudo o que se viveu, criei relações com eles que sei que ficarão para sempre, com o C. e a B.  até chegámos a partilhar casa tal era a nossa ligação, a A. não veio porque vive com a familia numa das melhores zonas da cidade, o Saldanha.

A relação foi aumentando, tivemos as nossas zangas como qualquer amigo tem, muitas partilhas, muitas conversas, algum choro (devo ser dos poucos que a vi chorar), houve 1 altura que pensei que a nossa relação iria terminar, foi num passado recente mas felizmente fomos adultos e conseguimos ultrapassar isso e hoje estamos melhor que nunca, temos sido grande apoio um para o outro.

Vi nelas grandes capacidades, talvez ela própria não saiba disso e até mesmo outros pois questionaram a minha decisão mas na hora de escolher o substituto para o meu lugar ela acabou por ser a escolhida, as razões? Só eu saberei mas não me arrependo da decisão pois quando a tomei sabia o que podia contar e foi o que aconteceu, continua lá por mais 1 tempos e sabe que poderá sempre contar comigo para a ajudar sempre que precisar, não só a ela mas àquela família que tanto amo e que tanto devo.

Parabéns mana e em Outubro estaremos juntos para abrir uma garrafa de moscatel como tanto gostas!

Hoje é o C. que faz anos, ele não me quis dizer quando era mas eu tenho bons contactos e soube que era hoje, já viste mano, quando queremos sabemos de tudo =)

Ainda não falei dos meus tempos de faculdade, dos meus tempos da residência, foram anos que me marcaram, foram anos de festas, de borgas, de conversas sérias, de abraços, de partilhas, de fumos, de sonhos e este camarada esteve presente em quase tudo. Lembro-me da primeira vez que falei com ele, talvez ele não se lembra, foi no bar novo da nossa faculdade, de novo não tinha nada mas lá estava ele mais 1 colegas a jogarem às cartas, aquele primeiro ano nós tomávamos conta daquele bar tal eram as horas que passávamos lá =)

O C. foi meu colega em algumas cadeiras e depois fomos para a mesma residência, ele começou num quarto, eu noutro mas passado 1 meses juntamos os 2 mais um "amigo" (que nome chamamos àquilo C?) e ficamos no quarto triplo, aquele quarto se falasse... Nós tinhamos turnos para dormir, quando 1 acordava, outro ia dormir e foi assim durante 1 tempos. 

No ano a seguir concorremos a um quarto duplo e foi sem dúvida dos melhores tempos que passei naquela casa, agora que olho para trás vejo isso, tenho pena de não ter aproveitado melhor os tempos mas o que foi vivido foi do melhor e sem dúvida que ficarão para sempre gravados na minha memória: Fazíamos as nossas massas, não sei se aquilo era massa ou outra coisa qualquer, metíamos tudo que tínhamos no armário e era comer até ao fim, as corridas no estádio universitários, as idas para buscar cerveja, as conversas até tarde (se alguém sabe do que "sofri" de amor naquela casa foi ele), alguns sermões merecidos, noites de bairro, tanta coisa... 

Chegou 1 dia e ele partiu, tive pena mas por outro lado fiquei contente porque ele não estava ali bem e merecia ser feliz e merecia voar... Voou para outras paragens mas  a nossa ligação manteve-se, podemos não falar todos os dias mas quando falamos parece que estivemos juntos ontem...

A última vez que tivemos juntos foi no meu jantar de despedida, não para o Sri Lanka mas para Macau, não tivemos muito na conversa mas aquele abraço quando chegaste, soube mesmo bem!

Sei que tenho ali um amigo para a vida, que podemos estar cada 1 no seu país mas aquilo que nos liga, aquilo que vivemos ninguém nos tira, obrigado por seres quem és, por teres essa maneira de ver e de escrever, obrigado por seres aquele irmão mais velho, que me deu a mão quando precisei, que me deu na cabeça quando precisei... se não sabes a importância que tens na minha vida, fica aqui relatada!

Que venha Outubro para voltarmos a estar juntos, desta vez com calma, sem muita gente e termos tempo para falarmos, bebermos 1 canecos e "lavarmos" as vistas!

Gosto muito dos 2 e parabéns pelos vossos aniversários!

ps - e muito mais poderia escrever de cada 1 deles mas não escrevo pois eles não gostam!

ps2- não meto nomes porque eles gostam de ficar "anónimos" =)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Partilha de ontem

E ontem foi isto que foi partilhado, obrigado Juliana!

" Cada pessoa é um ser único, com uma história de vida própria, somente por ela experienciada. Assim, não podemos julgar nem forçar as pessoas a pensar como nós e devemos aceitar que cada uma pensa, age, ama e vive de forma diferente.

Devemos também, não nos culpar por não sermos como o outro quer que sejamos e devemos reconhecer que podemos errar, que somos seres limitados e que não vamos atender sempre às expectativas dos outros.

No entanto, antes de compreendermos e aceitarmos a diferença do outro, devemos compreender e aceitar a nossa própria diferença. "

(autor que não sei se foi a própria Ju ou alguém que ela leu)

Fiquei a pensar nisso... gostava que fosse assim mas infelizmente a sociedade, o ser humano não vê as coisas com esses olhos, quantos de nós já se sentiram deslocados? quantos de nós já tentamos fazer com quem tenham  a mesma ideia que nós? tantas questões que podiam ser levantadas...

O que devemos fazer afinal?

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ontem foi o dia mundial de ajuda humanitária

Muito se vê, muito se escreve sobre as Associações, as ONG, as Fundações que trabalham em prol dos outros, uns criticam, outros aceitam, outros simplesmente são lhes indiferentes.

Sei que nem todos concordam com este tipo de trabalho, que dizem que os presidentes só querem encher os bolsos, que o trabalho é mal feito, que não devemos ir para esse local, que assim e assado...

Eu sou a favor deste tipo de trabalho, não só porque trabalho nesta área mas porque sei que conseguimos fazer a diferença, pode ser só 1 "só uma gota no meio do oceano" mas mais vale 1 gota do que nada.

Claro que há Ong melhores que outras, eu próprio critico algumas pois não concordo com o trabalho desenvolvido, ou melhor, a forma como desenvolvem...

O dar dar não leva a lado nenhum, não estás a ajudar em nada pois quando acabar o que fica? Só alimentamos os vícios que existem, eles ficarão sempre à espera que dêem as coisas em vez de trabalharem para e por elas. 

Eu sou mais do tipo: queres? então vais ter que conquistar/merecer, queres aprender? então estou aqui para ensinar mas não fazer por ti, sei que nem todos nesta área concordam comigo, já tive as minhas discussões por pensar assim mas o dar dar não resulta pela minha experiência e aí é que está o grande mal de algumas organizações, vão para o terreno e durante o tempo que estão lá são os maiores, dão tudo e depois? Vão se embora e como fica a população?

O trabalho de ajuda humanitária deve ser feito com principio, meio e fim, devemos estar lá durante x tempo, ajudar a que os próprios criem mecanismos de sustentabilidade e quando acharmos que já estão prontos a ficarem sozinhos então é tempo de deixar o local mas sempre com 1 olho lá caso alguma coisa falhe... Claro que isso é difícil pois requer custos, 1 missão por tanto tempo gastasse muito dinheiro mas não vale mais gastar numa coisa que sabemos que vai ficar bem do que estar em vários locais e fazer menos bem?

Eu sou a favor de fazer pouco mas bem do que muito mas menos bem...

Vejo por aí associações que o que conta é o nº de voluntários que mandam por ano para missões, fico feliz por eles por terem conseguido enviar todos os voluntários que fizeram a formação mas será que todos estão bem preparados? Não esquecer que quando partimos em missão não vamos só pelo nosso nome, vamos primeiro pelo nome da associação/ong que representamos, temos 1 nome a manter e às vezes 1 mau voluntário consegue "destruir" a má imagem que os locais têm de 1 associação.

Não é fácil dizer quem está preparado e quem não está, eu tive esse papel durante 3 anos e não foi fácil deixar algumas pessoas de fora, se me arrependo? Não, se achamos que aquela ou aquele não estava preparado para ir, não é agora que iria-me arrepender... E quem tem vontade, quem mostra mesmo espírito de missão lutará sempre pelos seus sonhos, eu costumo dizer, quem tem vontade para partir e ajudar tem a principal coisa que é a vontade, o resto, o tempo ajudará mas no ajudar também é preciso dedicação, é preciso lutar, é preciso mostrar...

Há algumas Ong que têm formação muito curta, uma semana por aí, eu acho que é muito pouco para quem vai fazer missão seja de curta ou longa duração, o estar em missão não é estar em casa, aqui não temos os nossos "caprichos" nem podemos ter, aqui não comemos o que nos bem entender, aqui não temos a vida que temos nos nossos países, aqui não temos os luxos... claro que existem voluntários que fazem isso, mantêm o nível e o estilo de vida que têm nos seus países, eles com tanto e as pessoas que vão ajudar com tão pouco... será bom fazerem isso? Não estou com isso a dizer que temos que viver como eles, não, estou só a dizer que as pessoas têm de saber estar no local, apenas isso.

A sociedade civil critica muitas vezes os presidentes que recebem ordenados, que não sabem para onde vai o dinheiro, que há padrinhos e tachos para todos, se têm razão? Alguns têm mas antes de se criticar temos que conhecer um pouco mais, e contra mim falo, eu também gosto de criticar, e também fui criticado mas aprendi que antes de criticar tenho que conhecer, só depois dar a minha opinião e tive, e tenho, que aceitar as opiniões dos outros em relação ao meu trabalho, são opiniões e todas, de uma maneira ou outra são válidas...

Eu fui responsável de 1 ong e a forma como nós fazemos a direcção não é aceite por todos mas é a melhor maneira para os valores da equipa não se perderem e normalmente chamamos para a direcção as pessoas da nossa confiança, só assim é que se consegue fazer 1 bom trabalho, não é que com os outros não consigas mas se algo der para o torto é mais fácil mandares 1 amigo para o outro lado do que um "desconhecido", há uma relação por trás... mas isso também tem coisas más, há amizades que se perdem pois não conseguem distanciar trabalho e amizade...

Se isso também não é uma questão de cunha? Não vejo as coisas assim, vejo sim que é para o bem da associação, apenas e só isso!

E podia falar, defender, criticar a organização para qual trabalho agora, nos últimos tempos foram alvos de enormes criticas mas eu não deixei de acreditar pois sei o valor e o trabalho que desenvolvem e se as pessoas soubessem talvez não falariam tanto...

Tal como disse, esta é apenas 1 visão de um voluntário que conhece os 2 lados da ajuda humanitária, o de responsável e o de voluntário, todos têm a sua opinião, umas diferentes das outras, nas minhas direcções tive pessoas que tinham maneiras diferentes de ver as coisas e ainda bem, assim aprendi e também ensinei algumas coisas, o importante é sermos sinceros e humildes no trabalho que desenvolvemos e ter sempre a consciência que fizemos o melhor!

O post já está grande, podia estar aqui a divagar muito mais mas fico por aqui =)

bom fim de semana

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O verão em “casa”



Hoje bateu-me a saudade do verão em casa…

Os culpados?
Na blogosfera todos falam de férias; vi fotografias no facebook da familia reunida a curtir o verão e porque tenho 3 amigos que estão lá a passar férias e que foram conhecer a minha mãe, fiquei feliz por ela conhecer mais 3 amigos, ela ouve falar deles mas não os conhece pessoalmente e agora teve oportunidade de os conhecer.

A última vez que passei lá férias foi em 2006, já lá vão 5 anos, como o tempo passa e nesse ano decidi fazer 1 tour pelas ilhas, éramos 3 e fomos a 7 das 9 ilhas, aquilo é que foi,  tenda às costas mas sempre que parávamos numa ilha com família lá íamos nós dormir no bem bom, quando não havia era parque de campismo, sempre à boleia, recusávamos pagar para andar de transportes, dizíamos que era um gasto extra, comer até 5 euros, sempre que havia supermercados era mesmo lá mas 1 sopinha fora era pão nosso de cada dia.

Deu para conhecer os Açores de outra maneira, se já amava aquela terra e considerava já como minha, depois da viagem muito mais, deu para conhecer muito e até encontrar amigos de Lisboa por lá, soube bem!

Mas as férias não é só isso… É estar em casa, acordar, comer qualquer coisa e ir até ao calhau, ir até à praia, voltar a casa para comer e de tarde voltar à praia, ficar preto preto coisa que já não me lembro o que é. De noite tentar arranjar boleia para a cidade e ficar por lá seja com os amigos seja com família, muitas vezes quando regressava de férias em tempos da universidade era mais os dias que dormia em casa de amigos do que propriamente na minha, não se passava nada à noite na vila e tínhamos que ir até à cidade…

As última vez que fui lá, antes de vir para o Sri Lanka, soube-me bem, tive com família, com primos que já não estava há muito, saí com tios, saí com amigos, deu para tomar os cafés com pessoas que gosto muito mas que infelizmente não consigo estar… até gostava de ir mais vezes a casa mas o raio da viagem é bem cara, é o que dá ter 1 só companhia para lá…

Da última vez até dei por mim a pensar se não seria capaz de voltar a viver na ilha… às vezes penso nisso, tem os seus prós e contras, já estabeleci que se não arranjar trabalho até Março irei voltar… lá o trabalho também não é fácil, muito menos na área que estudei e na área em que trabalho mas lá não tenho os gastos da casa e da comida, familia ajuda =)

E hoje estou assim para o saudosismo, também dá nisso!

Boas férias para quem vai, bom regresso para quem volta!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Notícias de cá



Normalmente não se ouve falar do Sri Lanka em Portugal, das últimas vezes que falaram deve ter sido quando houve o tsunami que foi em 2004 ou 1 ou outro ataque bombista dos Tigre Tamil durante a guerra civil, alguém já ouviu falar mais do Sri Lanka?

Por cá tem acontecido algumas coisas “estranhas” e que deveriam ser noticia, se fosse em Portugal de certeza que estaria nos jornais e nas tv mas por cá o caso tem sido abafado, apenas 1 ou outro meio de comunicação social têm falado e hoje dei por mim a tentar ver se encontrava alguma coisa pelos jornais estrangeiros e o pouco que vi foram 1 notícias brasileiras que falam em “diabos ensaboados”.

Afinal de contas, o que está a acontecer? Tem havido ataques desde a semana passada um pouco por toda a ilha em particular destaque na parte leste da ilha, onde eu moro, a mulheres. 

E o que consiste estes ataques? Pelo que tenho ouvido são 2 tipos de ataque com 2 propositos, o primeiro é feito pelos “diabos ensaboados”, homens que atacam mulheres durante a noite e que só têm o objectivo de morder-lhes no pescoço ou nos seios (penso que o uso das palavras mamas é a melhor mas para não ferir susceptibilidades uso seios) e para não serem apanhados besuntam-se com uma cena qualquer difícil para os outros os agarrarem. O segundo e mais grave, para mim, é que o governo está por trás disto, são homens ligados ao governo que estão a fazer género de inquérito pelas ruas, há zonas da ilha que estão bloqueadas por militares e que só querem falar com mulheres, todas as mulheres viúvas e solteiras eles ficam com a identificação, o nome e morada e parece que de noite vão a casa delas… 

Isto porquê? Ao que parece o senhor presidente aqui do sítio está com cancro e consultou 1 daqueles feiticeiros e ele disse que para se salvar tinha que recolher sangue de 3000 mulheres e se for das mamas,desculpem, dos seios melhor…

Se esta segunda versão é verdadeira? Qual das versões é verdadeira? Nos jornais não falam disso mas é o que se fala nas ruas e se alguém fala é porque tem algo de verdade, já o outro dizia “não há fumo sem fogo”.

Têm sido detidos homens que são apanhados a fazerem isso e os confrontos também tem acontecido com a policia e com o exercito, esta zona sempre teve problemas com as forças policiais, era um dos principais focos da guerra civil e parece que as coisas ainda não estão totalmente resolvidas, qualquer oportunidade para darem  1 pontapés aos policias/exercito é aproveitado. As forças policiais têm detido esses homens mas a população quer fazer a justiça com as próprias mãos…

Vamos ver no que isto vai dar, a mim chateia-me um bocado porque estou sem dar aulas na comunidade, apenas aqui na cidade mas não posso fazer nada, numa viagem que demora hora e meia agora está a ser feita em 4-5 horas pois é preciso parar em todos os pontos militares para ser inspeccionado o carro e as minhas alunas têm medo de sair à rua, com medo que haja algum ataque… que posso fazer? Nada.

E são estas as noticias por cá, dava ou não capa de “Correio da Manhã” e tema nas “ Tardes da Júlia” ou o programa do Goucha?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O que é dar-se?



Este foi o texto que o mano Carlos escreveu há dias no caderno EA.

Mano Carlos faz parte dos grupo Sidharta que vos falei há pouco tempo, os tais 5+1 que foram fazer o caminho português até Santiago, no outro dia foi a mana Sofia quem escreveu a oração.

Este texto foi retirado de um livro que partilhei com o Carlos quando tivemos em missão em 2008 em Mecanhelas, depois disso ele levou-o até Quissico onde fez missão por 1 ano.

O livro é “O Príncipe e a Lavadeira”, escrito por um padre jesuíta Pe. Nuno Tovar de Lemos e tal como o Carlos costuma dizer é um livro que chega a todos, não é preciso ser católico, o Carlos não é, para se perceber o que ele quer dizer, é verdade que fala no amor de Deus mas esse mesmo amor pode ser visto também o amor que temos e damos ao próximo, as ligações que se criam e que vão ficando, tanta e tanta coisa…

“(…) Essa é a primeira grande tentação dos homens, a tentação do "dar-se-sem-se-dar", brincar ao amor sem se comprometer. Tocar sem se deixar afectar, sem perder as suas seguranças. Os homens querem deixar sempre livre o caminho de regresso. Então dão-se, mas não se dão. Querem ter a sensação de que amam, mas sem correr nenhum risco pessoal. E então dizem uns aos outros: "Amo-te muito mas não estou preparado para assumir nenhum compromisso, já tenho muitas questões na minha vida." Ou então: "Ajudo-te a resolver os teus problemas desde que não me envolvas pessoalmente na tua situação!" Ou ainda: "Deixa-me cativar-te. Mas amanhã não me venhas bater à porta." Não entendem nada. Amar é deixar que a carga do outro passe para nós. Uma espécie de transferência, entendes? Por isso é que antes de cada acto de amor devemos pensar se estamos preparados para ele. Quando amamos tornamo-nos frágeis. Então achamos mais fácil guardar sempre uma certa distância cada vez que amamos, de modo a nunca corrermos o risco de ser afectados.”
“O Príncipe a Lavadeira”, Pe. Nuno Tovar de Lemos

De certeza que ao longo das nossas vidas tivemos estes momentos e o que fizemos? Em vez de fugirmos porque não abraçamos o outro? Podemos e devemos ajudar o próximo nos problemas, nas alegrias, porque hoje pode ser 1 amigo a precisar e amanhã podes ser tu e de certeza que gostarás de ter alguém em quem apoiar…

Ps – um dia irei escrever um pouco mais sobre algumas pessoas que são referências e apoios para mim, tenho pensado nelas e tenho a sorte de estar rodeado de pessoas boas e que me aceitam tal como sou, com todos os defeitos e qualidades.

O fim de semana por outras terras - Kandy - fotos



Comboio no Sri Lanka
Chegada a Habarana
Ruas de Kandy

Hotel com vista privilegiada para a Peharera 
Um dos elefantes do Perahera, era o elefante dos avisos
Não sei bem o que este senhor vendia mas que as pessoas iam todas a ele iam e só homens...

Eu no meio das pessoas
O "dente" do Buda
Ou será que estava aqui?

Um dos elefantes

Outro elefante... desculpem mas a máquina treme muito =)
Vista nocturna para o lago de Kandy
Uma ponte suspensa que dava para ver o parque e o Rio que passa no Parque

A rua das Palmeiras

O jardim central

Não sei se dá para ver mas as cenas pretas na árvore são morcegos
A viagem de regresso 


Tenho uns vídeos também mas como são pesados não dá para meter aqui, se alguém souber como avisem!

O fim de semana por outras terras - Kandy

Este fim de semana mudei de ares, era algo que já queria a algum tempo e que já andava a dizer aqui ao pessoal do staff que precisávamos de outro dia fora de portas, tinha ficado decidido que iríamos todos mas estão a acontecer alguns acontecimentos cá na terra, que falarei amanhã, e elas já não foram, fui apenas eu e Jude e iríamos ter a companhia do boss e do motorista.

O destino era Kandy onde estava a decorrer o festival Perahera, todos os sites onde tinha visto coisas do Sri Lanka todos falavam disso e eu queria ir lá ver para ver se era assim tão especial… Explicando em linhas gerais o que é o Perahera:  é um festival de 10 dias que junta as 2 religiões mais presentes aqui da ilha, o budismo e o hinduísmo e são dezenas de elefantes, ainda tentei contar mas perdi-me nos 30, que estão ornamentados com panos cheios de cores e com muito luxo, a acompanhar cada elefante vai um grupo de dança, alguns até pareciam saídos do Haka da equipa de rugby da Nova Zelândia tal era o impacto e a força da dança que tinham, eu olhava para aquilo de boca aberta, mexia comigo e com a minha veia de bailarino que é uma nódoa.

O grande acontecimento é mesmo a passagem do, suposto, dente do Buda, é o elefante com mais cor e com as melhores danças, todos fazem o seu pedido, quando passou por nós parecia que as pessoas estavam a “rezar” para o dente, a fazer pedidos, eu como não quer a coisa também fiz o meu, vamos ver se resulta =)
Mas deixem-me voltar atrás nos relatos: foi o primeiro dia que experimentei os transportes públicos do Sri Lanka, para qualquer lado que vou tenho sempre a carrinha à disposição mas eu disse que como éramos só 2 não valia a pena e que a viagem era só até Habarana que o Padre depois apanhava-nos lá.

Para lá fomos de comboio, são comboios de 2 classes, a 2ª classe são bancos mais luxuosos, tipo regional de Portugal e a 3ª classe são bancos normais, eu gostei, um banco dá para ¾ pessoas mas como era o primeiro da manhã tínhamos espaço para ficar cada um no seu. O bilhete é de apenas 150 rupias, 1 euro para 100 e poucos km.

Chegada a Habarana, que não era bem Habarana mas sim uma vila que só tem mesmo a estação de comboios estava lá o nosso outro transporte, o jipe do Padre. 3 horas depois estávamos em Kandy, ficamos alojados na Cáritas de lá.

Aqui há um habito muito bom: antes das refeições, quando há convidados, normalmente o dono da casa convida os homens para beberem, neste caso foi Whisky e Cerveja, uma Calsberg muito muito boa de 8,6 %, tenho que encontrar em Portugal, e a acompanhar 1 aperitivos que sou fã, mandioca frita com picante, umas batatas também picantes e milho, massas, enfim, tudo muito bom a pedir acompanhamento alcoólico. A brincar éramos 3 e mandamos 5 cervejas, aqui são de 0,66 e meia garrafa de Wisky que foi só tocada por eles.

Eu como sou um gajo muito curioso faço mil e uma perguntas sobre a vida deles enquanto padres cá na terra, o trabalho que desenvolvem, as dificuldades, tema puxa tema e passaram 2 horas nisso!

Foi comer e partir para as ruas de Kandy porque o festival  só começava as 20:30 mas era preciso arranjar local para ver e a verdade é que não foi coisa fácil, como era o último dia, o melhor dia de todos, as ruas pelas 17 horas já estavam à pinha, pessoal sentado no chão, balcões com cadeiras e que podias ficar lá se pagasses 5000 rupias ( 30 euros), aqui o pobre disse que não valia a pena que de certeza que arranjaríamos um lugar na rua… depois de 1 hora lá encontramos o nosso poiso, ficamos tipo numa esquina de 1 rua onde já estavam para aí 500 pessoas e arranjamos lá um cantinho no chão.

Aquilo começou as 20:30 mas só passou na nossa rua às 22 e durou quase até à 1 da manhã, foram 3 horas de puro espectáculo, sem dúvida das melhores coisas que já vi na minha vida, e não foi só pelo brilhantismo dos elefantes, das danças, do dente do buda mas sim por tudo, pelas pessoas que estavam presentes, pelas ligações que se criam, por tudo mesmo.

Foi também uma oportunidade de lavar as vistas, tenho que ser sincero,  na minha cidade não vêm muitos turistas e lá encontrei não só turistas engraçadas mas também locais muito bonitas por sinal, não sei se é por viverem na cidade mas lá as raparigas usam calças de ganga, são mais arranjadas. Sim, para mim sinal de evolução é mesmo o uso das calças de ganga por parte da mulher, já fazia isso em Moçambique.

Acabamos a noite a ver o lago de Kandy, ficou a promessa que voltaríamos lá no próximo mês, antes da minha partida.

No dia a seguir era dia de voltar, isto de estar 2 dias fora de casa é muito tempo por isso foi acordar cedo, tomar o pequeno –almoço, desta vez Sri Lankense que é constituído por massa, lentilhas e sardinhas picantes  e é encher o prato que aqui eles comem bem!

Começamos por ir até ao mercado local, eu gosto de mercados, gosto de ver os legumes, as frutas, as lojecas, as especiarias, comprei algumas frutas que não conhecia e que já comi hoje, não tirei fotos, pena mas terei oportunidade para vos mostrar, são frutas que não temos em Portugal nem exportado e com um sabor muito bom. Sri Lanka é uma terra muito fértil, existe um pouco de tudo.

O próximo local foi o jardim botânico de Kandy, o único da ilha e existem árvores de todo o lado, também sou fã de jardins, eu e as dezenas de casais que encontrei por lá, parecia o jardim dos namorados tal era o nº de namorados que estavam lá, ficam debaixo da árvore e ficam assim, ainda tentei ver se algum casal dava 1 beijo mas ainda não foi desta que vi este tipo de “carícias” por cá, mas já vi mãos dadas o que já foi muito bom e alguns abraços =)

O jardim é enorme, vimos um pouco a correr porque Padre estava com pressa de voltar para a sua terra, dizia que tinha muito trabalho…

Tal como em todos os locais de visita, o local paga muito menos que o estrangeiro, neste caso foram 50 rupias para local (30 centimos) e 1100 para mim (7 euros), eu já tinha dito isso antes e volto a repetir, Portugal também deveria pensar nisso para ver se os Portugueses começam a visitar mais os seus museus, castelos, etc.

De regresso a Batticaloa, voltamos no outro transporte público, desta vez o autocarro, autocarro semi-luxuoso como dizia no placar, devia ser porque os bancos tinham estofos novos, de inicio fizemos a viagem de pé porque estava lotado mas depois de Pollonaruwa arranjamos sítio para sentar.

E foi assim o fim de semana, desculpem o testamento!

Esta semana há mais escritas, tenho temas pendentes.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A vocação


Este foi mais um texto retirado do caderno EA 2011, foi o do dia8/8,  e foi preparado por 1 das melhores pessoas que eu conheço, por tudo que ela é e faz pelos outros.

O texto fala em vocação, não na perspectiva de vocação religiosa mas a vocação que nasce em cada um de nós.

Foi também o tema escolhido para a caminhada até Santiago do grupo "Sidharta", são 5 amigos meus que decidiram fazer o caminho português até Santiago, foram só 5 mas poderiam ter sido mais mas por incompatibilidades de horários e distância (eu) não conseguiram ir. As 5 pessoas que foram são especiais e se dissessem que poderia escolher 10 amigos para a vida certamente que eles estariam lá, eles sabem disso, se não sabem, ficam a saber: Uma delas regressou à pouco tempo da Guiné, outra está a caminho de Madrid, outra ou está de férias ou está à volta dos apadrinhamentos, um está a fazer voluntariado no Alentejo e o outro está a fazer voluntariado na região centro, também eles têm o bichinho da missão e do ajudar o próximo, tenho aprendido muito com eles, com os seus testemunhos de vida e de missão, são pessoas que em qualquer lugar conseguem "cativar" os presentes pelas suas histórias e pelo seu dia-a-dia, obrigado por estarem perto!

Agora o texto:
"Dá Tempo à Tua Vocação. Nunca dês ouvidos àqueles que, no desejo de te servir, te aconselham a renunciar a uma das tuas aspirações. Tu bem sabes qual é a tua vocação, pois a sentes exercer pressão sobre ti. E, se a atraiçoas, é a ti que desfiguras. Mas fica sabendo que a tua verdade se fará lentamente, pois ela é nascimento de árvore e não descoberta de uma fórmula. O tempo é que desempenha o papel mais importante, porque se trata de te tornares outro e de subires uma montanha difícil. Porque o ser novo, que é unidade libertada no meio da confusão das coisas, não se te impõe como a solução de um enigma, mas como um apaziguamento dos litígios e uma cura dos ferimentos. E só virás a conhecer o seu poder, uma vez que ele se tiver realizado. Nada me pareceu tão útil ao homem como o silêncio e a lentidão. Por isso os tenho honrado sempre como deuses por demais esquecidos."

Antoine de Saint-Exupéry, in 'Cidadela' 

E vocês sabem qual é a vossa vocação?

Eu próprio estou a tentar descobrir, penso que já estive perto de saber, depois fiquei na dúvida e agora estou a tentar descobrir de novo, pode ser que com os textos também me ajude a clarificar algumas coisas que andam cá na cabeça!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Casamento na comunidade Burgher


Decidi hoje tocar neste assunto porque ontem 1 das minhas alunas pediu-me para não dar hoje aulas na comunidade porque tinha que ir ao registo… Eu não percebi o que ela queria dizer com aquilo mas as outras só diziam “miss, miss”, ainda pensei que ia a um concurso de misses cá da terra mas não, ela amanhã vai ao registo “casar-se”.

Eu nem sabia que a rapariga tinha namorado mas isso é uma coisa muito normal por cá, não dás pelos namorados pois o conceito de namoro é muito diferente, não vês os namorados de mãos dadas, muito menos beijos, alguns são namorados mas mais pelo telemóvel pois se forem apanhados pelos pais não será nada bom…

Mas falando do titulo do post de hoje e usando o caso da minha aluna:

Ela vai-se casar primeiro no registo e depois na Igreja. Eu contei que em Portugal algumas pessoas casam-se no mesmo dia nos 2 lugares e se era normal haver esses dois momentos, pelo que entendi e na conversa com o Papa Tittus antigamente faziam as 2 coisas ao mesmo tempo mas nos tempos de hoje o registo é como se fosse um contrato, sabes que tanto o rapaz e a rapariga já têm “dono” e não há forma de fugirem ao casamento.

A comunidade burgher, tal como já falei em posts anteriores, desejam que os seus filhos se casem com outro burgher, é uma forma de manterem a cultura, os laços familiares mas cada vez há menos jovens e esses seguem o que o coração manda, não estão a escolher se é burgher ou outra coisa qualquer, acontece… os pais é que não gostam muito disso mas isso já é outra história!

Com este casamento, o casal já pode ser visto junto na rua, o rapaz passa a frequentar a casa da esposa e vice-versa. Beijos? Sexo? Coisas dessas? Ainda não é para agora, as mulheres por cá guardam a sua virgindade para o dia especial… Se é correcto ou não? É bonito de se ver mas se aquilo depois não funciona? Acho que a vida sexual por cá não é 1 dos factores mais importantes… o ter relações têm 1 objectivo: procriar, apenas e só!

No dia do casamento pela igreja, aí sim, é um dia em grande tal como em todos os casamentos, os noivos recebem os convidados em casa, dançam a Bailla e a Kaffrinha, (se pesquisarem no youtube têm lá alguns videos apesar de se ter tornado popular entre os cingaleses que adaptaram para os dias de hoje) duas danças típicas dos burghers, são 4 musicas tocadas com violinos, viola, um  pandeiro mas em ponto gigante e uma espécie de pandeireta mas só com os ferrinhos, 1 ou 2 vozes e está feita a festa!

Em todos os casamentos burghers há isso, infelizmente existe apenas 1 banda e 1 dos violinistas tem 75 anos, o guitarrista idem, o que vai acontecer é que daqui a 5-10 anos se os novos não aprenderem vai acabar 1 das coisas mais antigas desta comunidade…  Eu tento sempre dizer aos meus alunos para se “apegarem” a esta cultura que é tão especial mas o interesse é quase nulo…

Só um aparte, no BI de cá é feita a distinção, isto é, se és burgher está lá a dizer Burgher Sri Lankan, se és Tamil Tamil Sri Lankan e assim para todos as “etnias”…

Os burghers são conhecidos pelos casamentos animados, muito à custa do álcool, é vê-los a cantar, a dançar, nos outros casamentos que tenho visto aqui pelo  centro não são tão animados, têm musica mas não há álcool, os hindus e os muçulmanos não gostam desse tipo de coisas…

E para onde eles vão viver depois de estarem casados? Pois é, fiquei surpreso com isso: a mulher tem que dar ao marido casa, um bocado de terra para cultivar ou ter o seu jardim e o marido apenas dá jóias… os maridos vão viver para a casa nova construída com dinheiro da esposa, alguns deles como não têm dinheiro ficam a viver junto dos sogros, nunca perguntei se era fácil ou não…

E é assim um pouco do casamento burgher!

sábado, 6 de agosto de 2011

Religiões do Sri Lanka - parte 2

O Sri Lanka foi considerado, em 2008, o 3º país mais religioso do mundo, cerca de 99 % é seguidora de algum culto/religião.

Falando em %, cerca de 70% é seguidora do budismo, 15 % seguidora do hinduísmo, 7,5 % do cristianismo e 7,5 % do islamismo.

Eu antes de vir para o Sri Lanka pensava que este país devido à proximidade da Índia seria um pais maioritariamente hinduísta mas depois de ler um pouco, depois de já cá estar reparei que o budismo é a grande religião da ilha e tudo por questões históricas.

O budismo de cá segue a escola de Theravada e foi introduzido no séc. 2 AC por Mahinda, filha do imperador Ashoka.

Esta escola é das mais antigas escolas do budismo e tem uma visão muito conservadora. É a religião predominante do Sri Lanka e dos países do sudeste asiático.

Vê-se muitos templos pela estrada e muitos monges, lembro-me que no dia que fui tratar do visto estavam perto de 20 monges mas um pouco alternativos pois já tinham telemóvel e um deles até 1 iphone...

Todos os meses há o "Poya day", acho que é assim, que é o dia que chega a lua cheia, é feriado por cá, todos vão para a praia ver a lua a nascer.

É uma religião que tem muitos seguidores mas ainda não percebi bem como é a pratica deles...

Um templo budista na estrada para Colombo
O hinduísmo era a religião predominante antes da chegada do budismo. São quase todos tamils e alguns são provenientes da Índia, Paquistão, etc. Eles estão mais concentrados na parte norte e este da ilha, onde me encontro.

São seguidores de Shaiva Siddhanta, a mais antiga escola hindu existente. As divindades mais vistas por cá são Visnhu, Shiva, Brahma, Skanda e Ganesha.

Porém a maioria segue o chamado hinduísmo popular, sem a bagagem da escola filosófica do pensamento.  Eles geralmente adoram uma vila, clã ou divindade tribal, dentro ou fora do panteão das divindades hindus .Algumas divindades locais são Kannaki , Mariamman , Draupadi , Ayyanar , Vairavar e adoram no templo  ou em espaço aberto.
Templo Hindu de Trincomalee

A guerra civil que aconteceu até 2009 também pode ser vista como religiosa pois por um lado os budistas, o governo, diziam que toda a terra pertencia aos budistas, os tamils, os hinduístas, diziam que a parte norte e leste era deles por questões históricas daí os focos da guerra terem sido mais vistos por estes lados, era por aqui que se encontravam os “tigres tamil” que ouvimos falar em Portugal lá de vez em quando. Com a morte do principal general dos tigres tamil a guerra acabou e a religião oficial passou a ser o budismo apesar da maioria da população da parte norte e leste ser tamil…

Se isto vai algum dia ficar resolvido? Penso que não, o que interessa é que consigam viver 1 com os outros e que não seja preciso recorrer, outra vez, à guerra civil para resolverem os problemas “geográficos”, acho que a solução pensada era um pouco à imagem do que encontramos na Irlanda com as 2 Irlandas mas aqui seria budismo e hinduísmo.

O catolicismo por cá teve a mão dos portugueses que cá chegaram em 1605. Ainda hoje os católicos convertidos adoptam nomes portugueses pois consideram que ter o nome português é sinonimo de ser católico, é ver muito Fernando, Perera, Gomes, Dias, todos eles cingaleses mas com nomes portugueses. A grande maioria dos católicos são da igreja romana, os restantes são metodistas e as “novas igrejas” também já existem por cá como os Pentecostais, os Jeovás, a Assembleia de Deus mas ainda é menor nº.

Aqui como nos outros lugares, houve uma pressão enorme dos portugueses para a conversão e muitos não tinham opção senão converter.

Depois dos portugueses vieram os holandeses, expulsaram todas as ordens católicas que se encontravam cá e tentaram introduzir as suas igrejas mas com o passar dos anos até à actualidade penso que a igreja católica romana sem dúvida conseguiu manter-se com mais força, após a saída dos holandeses chegaram os ingleses e mesmo eles sendo protestantes não viam com tanta maldade a chegada de membros da igreja católica romana na ilha, foi assim que foi reforçada com a chegada de 2 missionários goeses por estas bandas.

Um facto a saliantar é que aqui quando se pergunta qual é a religião, pergunta-se se és “roman catholic”, em Portugal não fazemos essa diferença, ou pelo menos, nunca me perguntaram assim.

A comunidade com quem trabalho, os burghers são todos católicos e juntamente com alguns tamils convertidos posso dizer que este povo é dos mais devotos que já vi, basta ver a quantidade de pessoas que vão à missa e a forma como estão na missa, como rezam, é mesmo muito interessante ver isso. Eu se tivesse tempo e dinheiro viria para cá e estudaria apenas o impacto da religião nesta comunidade e como é que se manteve a igreja católica entre eles sendo muitos deles descendentes de holandeses e ingleses.
Saint Mary Church - Batticaloa

E por fim temos os muçulmanos, que num dos distritos que dou aulas (Ampara) é a religião predominante. Estes estão divididos em 3 grupos étnicos: os muçulmanos, os muçulmanos indianos e os malaios.

Eles aqui também têm como principal profissão o comercio, é ver loja sim, loja sim com nomes árabes e os homens com grandes barbas sentados à porta, as mulheres com burka, algumas burkas diferentes das que vemos na televisão, tenho que 1 dia perguntar o porquê da diferença.

A maioria é sunita mas nos últimos tempos têm chegados os xiitas principalmente os oriundos da Índia e do Paquistão.
Mesquita em Kalmunnai ( Distrito de Ampara) - saquei da net porque não tinha nenhuma

Podia falar muito mais de cada religião mas assim dou uma visão geral das religiões cá da ilha.  

Se precisarem de mais detalhes é só dizer que tento saber 1 pouco mais!

Bom domingo!

" A vida é um projecto que se constrói"

Li este texto pela 1ª vez penso num dos primeiros retiros que tive na EA e desta vez foi partilhado por 1 das voluntárias (Bruna) no tal caderno da Ea que já vos falei, obrigado por teres posto este texto e que faz pensar...

“Um velho carpinteiro que construía casas estava para se reformar e informou o patrão do desejo. A empresa não seria grandemente afectada pela saída do carpinteiro, mas o patrão estava triste ao ver um bom funcionário sair e pediu-lhe para fazer uma última casa, como favor.

O carpinteiro não gostou mas não discutiu. Foi fácil ver que ele não estava muito satisfeito com a ideia e prosseguiu fazendo um trabalho de menor qualidade. Quando o carpinteiro acabou, seu patrão veio fazer a inspecção da casa construída, como era hábito, mas, no fim, deu-lhe a chave da porta e disse: “ Esta casa é tua. Aceite-a como sinal de agradecimento pelos anos de dedicação”.

O carpinteiro ficou muito surpreendido e pensou: “Se soubesse que era para mim tinha construído de modo diferente…”

O mesmo acontece connosco. Nós construímos a nossa vida, um dia de cada vez e muitas vezes fazemos muito menos que o melhor que sabemos. Depois, é com surpresa que descobrimos que precisamos viver na casa que nós construímos. Se pudéssemos fazer tudo de novo, faríamos tudo diferente. Mas não podemos voltar atrás. És carpinteiro, todos os dias martelas pregos, ajustas tábuas e constróis paredes. As tuas atitudes e escolhas de hoje estão a construir a “casa” onde terás de morar amanhã.” (Autor desconhecido)

E tu? Como tens construído a tua “casa”?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

As religiões cá do sítio

O tempo não tem ajudado para conseguir escrever 1 post sobre as religiões cá do sítio mas quero muito falar sobre as religiões do Sri Lanka pois li algures que era o 3º país mais religioso do Mundo, 98% é devoto de alguma religião.

Eu já tinha reparado nisso, no último fim de semana participei em 2 grandes festividades cá do sítio, uma hindu, "Mamanda"de seu nome, como qualquer festa hindu, é ver as pessoas deitadas no chão como se nada fosse, a irem ao templo fazer as suas rezas, ouvir aquela música que mais parece tirada de África tal é o ritmo dos tambores e na manhã de domingo é ver os homens a banharem-se no mar ou na lagoa bem suja por sinal mas que eles dizem que os "limpa" de todos os males!

E tive oportunidade de ir a uma festa católica num dos bairros que mais gosto em Batti, Dutch Bar, não só porque vivem lá alguns amigos mas porque é uma zona cheia de burghers, a comunidade com quem trabalho e estão sempre a querer falar português mesmo com muitas diferenças do nosso actual, eu quando vou lá nunca é apenas por 1 hora, fico sempre muito mais e depois vêm os convites e acabo por ir a casa de todos!

Foi dia de Inácio de Loyola, o fundador da companhia de Jesus, eles têm cá bastante importância!

Uma das turmas que dou aulas fica na comunidade de Akkaraipattu e agora que começou o ramadão a viagem tem sido bem mais rápida, tudo porque os miudos e graudos não andam na rua, à hora que termino as aulas eles estão todos na mesquita ou em casa a comer =)

Mas quero dar mais detalhes num post que estou a preparar sobre esta temática, hoje ficou apenas 1 cheirinho e só para não deixar adormecido o blog!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Partida


Hoje não vou escrever sobre o dia a dia do Sri Lanka mas sim da outra família que tenho e que se chama Equipa d`África.

Hoje é o dia de partirem em missão, vão 12 voluntários para Moçambique, 4 para o Metoro,  4 para Macomia e 4 para o Guiua. Temos lá mais 2 voluntárias que estão a fazer missão por um ano em Quissico. 

E nos últimos anos começou-se uma nova missão, é bom ajudar os países de fora mas também é bom ajudarmos o nosso pais e que tem tanto para fazer e este ano partem 6 para Vale de Água e 4 para Alcoentre, este um projecto novo já que será de 1 mês, nunca antes tinha sido feito.

Nos meus últimos anos foi em Moçambique que passei o mês de Agosto e Setembro, este ano não piso aquela terra que tanto me diz mas no dia que saí custou bastante mas agora acho que tinha mesmo que ser, era tempo de dar a oportunidade a outros, a liderança da EA precisava outros ares, eu já tinha vivido tanto e achei que todos mereciam viver o que eu tinha vivido, o que tinha visto, o que tinha aprendido, o que tinha ensinado…

Claro está que hoje o coraçãozinho está bem apertado porque não estou em Portugal para dizer um “até já” aos voluntários, dar aquele abraço que irá fazer falta naqueles momentos de mais aperto, que não conseguirei mandar as minhas cartas até às minhas “casas” mas mesmo estando longe eles sabem que “tamos juntos”, seja aqui, seja lá, tamos sempre juntos em pensamento e oração!

Eu comecei a caminhada nesta associação em 2006 e “terminei” em 2010, meto terminei entre aspas pois sinto que ainda faço parte mesmo não estando com eles no dia a dia, é um pouco como se ouve por aí em alguns grupos: “uma vez ea, sempre ea”.

Foram 4 anos… não consigo descrever os 4 anos mas sem dúvida que foram anos que me ajudaram a tornar a pessoa que sou hoje, agradeço sempre aos meus pais e irmãos por me terem dado a educação que tive e à EA por me ter tornado a pessoa que sou hoje, ajudou-me a ver as coisas com outros olhos, ensinou-me muita coisa em pequenos gestos, cada pessoa com quem me cruzei, desde aquele voluntário que só apareceu 1 dia até à voluntária que me acompanhou nos 4 anos de caminhada, todos eles foram especiais.

Ganhei 1 família porque criei relações que sei que serão para a vida, são pessoas que sempre que precisar estarão lá para mim e sabem que o mesmo se passa ao contrário, mesmo longe tenho tentado ajudar no que consigo para estas pessoas e para a EA.

Nós temos o habito de chamar manos a quem fez missão connosco mas eu estendo este leque para outros que mesmo sem fazer missão estiveram no meu caminho e mostraram serem os verdadeiros manos, sempre prontos para dar a mão quando preciso, sempre disponíveis para ouvir e se fosse preciso também darem na cabeça.

Sei que muitos deles passam por este cantinho e a vocês, não preciso de dizer nomes, vocês sabem quem são, obrigado por fazerem parte de mim!

Tenho uma divida muito grande para a EA e tudo que eu puder fazer por ela farei, é o mínimo depois de tudo que dela recebi.

Este bicho da missão nasceu com eles, cresceu com eles e tornou-se a minha vida. Ás vezes penso que é tempo de parar mas a vontade de partir, de ajudar tem falado mais forte…

Não sei o que o futuro me reserva, pela primeira vez não tenho pensado (tanto) nisso, vou aceitar o que Ele tem para mim e eu próprio irei descobrir qual o meu caminho…

De certeza que irei partilhar mais sobre estas minhas experiencias com a EA mas hoje fica apenas o “Boa viagem e boa missão, Tamos Juntos”

E aqui fica um pequeno excerto do caderno de 2011, é um caderno que todos os voluntários têm e que no momento da noite, no momento de oração e partilha, estão todos juntos, como se tivessem conectados 1 com os outros:
“A tua mochila tem de ir leve, para que possas caminhar por ti próprio. Olha bem para o que levas dentro. Muitas vezes levas cargas que não são tuas; outras levas cargas de outros porque te crês imprescindível; outras não sabes bem o que levas nelas. Tira da tua mochila tudo o que não te pertence e não gastes energia em fazer o que os outros devem fazer. Não carregues com coisas do passado já esquecido,nem leves nada para o futuro porque este ainda não chegou. Caminha leve, só com o necessário para o momento, a vida dar-te-á tudo aquilo que possas ir necessitando.”