sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ontem foi o dia mundial de ajuda humanitária

Muito se vê, muito se escreve sobre as Associações, as ONG, as Fundações que trabalham em prol dos outros, uns criticam, outros aceitam, outros simplesmente são lhes indiferentes.

Sei que nem todos concordam com este tipo de trabalho, que dizem que os presidentes só querem encher os bolsos, que o trabalho é mal feito, que não devemos ir para esse local, que assim e assado...

Eu sou a favor deste tipo de trabalho, não só porque trabalho nesta área mas porque sei que conseguimos fazer a diferença, pode ser só 1 "só uma gota no meio do oceano" mas mais vale 1 gota do que nada.

Claro que há Ong melhores que outras, eu próprio critico algumas pois não concordo com o trabalho desenvolvido, ou melhor, a forma como desenvolvem...

O dar dar não leva a lado nenhum, não estás a ajudar em nada pois quando acabar o que fica? Só alimentamos os vícios que existem, eles ficarão sempre à espera que dêem as coisas em vez de trabalharem para e por elas. 

Eu sou mais do tipo: queres? então vais ter que conquistar/merecer, queres aprender? então estou aqui para ensinar mas não fazer por ti, sei que nem todos nesta área concordam comigo, já tive as minhas discussões por pensar assim mas o dar dar não resulta pela minha experiência e aí é que está o grande mal de algumas organizações, vão para o terreno e durante o tempo que estão lá são os maiores, dão tudo e depois? Vão se embora e como fica a população?

O trabalho de ajuda humanitária deve ser feito com principio, meio e fim, devemos estar lá durante x tempo, ajudar a que os próprios criem mecanismos de sustentabilidade e quando acharmos que já estão prontos a ficarem sozinhos então é tempo de deixar o local mas sempre com 1 olho lá caso alguma coisa falhe... Claro que isso é difícil pois requer custos, 1 missão por tanto tempo gastasse muito dinheiro mas não vale mais gastar numa coisa que sabemos que vai ficar bem do que estar em vários locais e fazer menos bem?

Eu sou a favor de fazer pouco mas bem do que muito mas menos bem...

Vejo por aí associações que o que conta é o nº de voluntários que mandam por ano para missões, fico feliz por eles por terem conseguido enviar todos os voluntários que fizeram a formação mas será que todos estão bem preparados? Não esquecer que quando partimos em missão não vamos só pelo nosso nome, vamos primeiro pelo nome da associação/ong que representamos, temos 1 nome a manter e às vezes 1 mau voluntário consegue "destruir" a má imagem que os locais têm de 1 associação.

Não é fácil dizer quem está preparado e quem não está, eu tive esse papel durante 3 anos e não foi fácil deixar algumas pessoas de fora, se me arrependo? Não, se achamos que aquela ou aquele não estava preparado para ir, não é agora que iria-me arrepender... E quem tem vontade, quem mostra mesmo espírito de missão lutará sempre pelos seus sonhos, eu costumo dizer, quem tem vontade para partir e ajudar tem a principal coisa que é a vontade, o resto, o tempo ajudará mas no ajudar também é preciso dedicação, é preciso lutar, é preciso mostrar...

Há algumas Ong que têm formação muito curta, uma semana por aí, eu acho que é muito pouco para quem vai fazer missão seja de curta ou longa duração, o estar em missão não é estar em casa, aqui não temos os nossos "caprichos" nem podemos ter, aqui não comemos o que nos bem entender, aqui não temos a vida que temos nos nossos países, aqui não temos os luxos... claro que existem voluntários que fazem isso, mantêm o nível e o estilo de vida que têm nos seus países, eles com tanto e as pessoas que vão ajudar com tão pouco... será bom fazerem isso? Não estou com isso a dizer que temos que viver como eles, não, estou só a dizer que as pessoas têm de saber estar no local, apenas isso.

A sociedade civil critica muitas vezes os presidentes que recebem ordenados, que não sabem para onde vai o dinheiro, que há padrinhos e tachos para todos, se têm razão? Alguns têm mas antes de se criticar temos que conhecer um pouco mais, e contra mim falo, eu também gosto de criticar, e também fui criticado mas aprendi que antes de criticar tenho que conhecer, só depois dar a minha opinião e tive, e tenho, que aceitar as opiniões dos outros em relação ao meu trabalho, são opiniões e todas, de uma maneira ou outra são válidas...

Eu fui responsável de 1 ong e a forma como nós fazemos a direcção não é aceite por todos mas é a melhor maneira para os valores da equipa não se perderem e normalmente chamamos para a direcção as pessoas da nossa confiança, só assim é que se consegue fazer 1 bom trabalho, não é que com os outros não consigas mas se algo der para o torto é mais fácil mandares 1 amigo para o outro lado do que um "desconhecido", há uma relação por trás... mas isso também tem coisas más, há amizades que se perdem pois não conseguem distanciar trabalho e amizade...

Se isso também não é uma questão de cunha? Não vejo as coisas assim, vejo sim que é para o bem da associação, apenas e só isso!

E podia falar, defender, criticar a organização para qual trabalho agora, nos últimos tempos foram alvos de enormes criticas mas eu não deixei de acreditar pois sei o valor e o trabalho que desenvolvem e se as pessoas soubessem talvez não falariam tanto...

Tal como disse, esta é apenas 1 visão de um voluntário que conhece os 2 lados da ajuda humanitária, o de responsável e o de voluntário, todos têm a sua opinião, umas diferentes das outras, nas minhas direcções tive pessoas que tinham maneiras diferentes de ver as coisas e ainda bem, assim aprendi e também ensinei algumas coisas, o importante é sermos sinceros e humildes no trabalho que desenvolvemos e ter sempre a consciência que fizemos o melhor!

O post já está grande, podia estar aqui a divagar muito mais mas fico por aqui =)

bom fim de semana

8 comentários:

Paula disse...

São das que prefere dar a cana e ensinar a pescar em vez de4 facultar o peixe.
Não devemos levar todos por iguais.
Como em tudo existe os bons...os menos bons... e os péssimos temos de saber lidar com isso e fazer a nossa parte =)
Beijinho e bom fim-de-semana

Anónimo disse...

Pela primeira vez vejo alguém falar deste tema de uma forma com a qual eu concordo. É bom saber que dentro dessas organizações há pessoas que pensam dessa forma.
Desde já o meu obrigada. :)

Beijinhos

Catarina disse...

Não há sistemas perfeitos em nada, na ajuda humanitária penso que não será excepção, de qualquer modo, ingenuamente ou não continuo a acreditar muito no trabalho que fazem!
Beijinho*

M.J. disse...

Utena: Acho que os locais de ajuda precisam de serem ensinados e acima de tudo quererem ser ensinados a ficarem melhores, quando não há vontade da parte deles o melhor é mesmo deixar o local... é um pouco extremista mas tem que ser!
O mundo da ajuda humanitária não é 1 mar de rosas, há uma rivalidade parva, não se percebe porquê mas que há há...
O que interessa é fazer bem o trabalho, assim ficam todos bem, nós e eles!
bjs bom fim de semana e boa montra =)

Joana: Como eu existem algumas pessoas com este pensamento, não tens que agradecer, trabalhamos assim porque pensamos que é a melhor maneira.
bjs

Catarina: Acredita mesmo, o trabalho que se faz marca a diferença =) E este não é o mundo perfeito, tem as suas falhas como têm todos, bjs

Unknown disse...

Exactamente. Ajudar não é dar o peixe, mas sim a cana e ensinar a pescar.
O exemplo de África é óptimo. Faz-me imensa confusão ver toda aquela gente que é tratada, porque também se põe a jeito para isso, como autênticos animais domésticos completamente dependentes dos que ajudam. São pessoas que ficam positivamente na miséria à espera que do céu desçam os benditos helicópteros carregados de mantimentos que é para não morrerem à fome e assim poderem continuar a sobreviver e reproduzirem-se, fazendo assim com que surjam mais bocas para serem alimentadas e o consequente trabalho e o volume da ajuda. Interrogo se isso é realmente ajudar. Onde é que está a dignidade humana no meio disso? Tratar seres humanos que nem parasitas é humano?
É por causa disso que fico sempre espantado e com um pé atrás quando oiço uma ONU ou as ONG's dizerem que é preciso ajudarmos a África. Então depois de tantos anos após as independências dos países africanos, o continente vai de mal a pior? Então porquê? O que é que se passa? O que é que correu mal? Quanto mais a gente ajuda, mais ajuda precisamos de dar. Se damos a mão, pedem-nos o braço. Se damos o braço, querem o corpo todo. Andamos a brincar? É preciso resolver o problema pela raíz e isso passa por mudar a mentalidade das pessoas, sobretudo dos próprios africanos. É ensinarem-lhes a trabalhar e a produzir porque a terra é fértil e rica, só trabalhando e produzindo é 2que deixará de haver fome e havendo desenvolvimento do sector primário é que pode haver desenvolvimento do sector secundário e depois o terciário.
Se ajudamos é na certeza de que quem é ajudado saiba ajudar-se a si próprio, não para ser ajudado continuamente.
E é por isso que eu torço um pouco o meu rariz a muitas instituições de ajuda humanitária.

Abraço.

M.J. disse...

Firehead: Tu não mudas mentalidades, nem é esse o objectivo, tu não vais nem deves mudar culturas mas é ensinar e mostrar o lado da sustentabilidade, uma coisa não impede a outra. Eles têm que aprender mas para isso não têm de deixar de ser como são.
A questão da ajuda tem muito que se diga, as vezes as organizações chegam e fazem mas será que consultaram a população local se queria aquilo?
Em questões de emergência como é o caso agora do Corno de África toda a ajuda é bem vinda, se estão a morrer só se consegue ajudar dando alimento e que venham os aviões com comida, se é manter um vício? aqui não se trata de vícios, é uma questão de sobrevivência. Depois disso resolvido, da fome ser sanada, aí sim passa pelo ensino, de ajudar mas não como fazem muitas organizações, o problema foi resolvido vão-se embora... é preciso ficar lá e ajudar na reconstrução, no melhoramento das condições, tanta coisa que se pode fazer mas sempre em união com a população local.
E isso não é sonho, se eu fizer essa parte posso não ajudar todos mas se ajudar 1 o meu trabalho já é recompensado, essa é a minha forma de ganhar porque sei que esse que aprendeu irá ensinar outro e por aí adiante...
Mas o ser humano tem 1 grande problema, olha primeiro para si e depois para os outros!
abraço

Unknown disse...

O exemplo do Corno de África que tu deste é paradigmático. A ONU pediu ajuda ao mundo para os milhões que por lá se encontram a passar fome. Mas esquecem-se de falar, vá-se lá saber porquê, que as milícias islamitas fazem de tudo para boicotar a ajuda huminatária, atacando inclusivamente quem queira ajudar os desgraçados. E depois há também o Ramadão que dura todo este mês e que faz com que as pessoas, que já se encontram a passar fome, a fazer jejum, e sabes que naquelas paragens o não cumprimentos dos preceitos do credo de Mafoma é entendido como apostasia e isso dá direito à pena de morte. Estamos, portanto, a falar de ajudar quem não se ajuda nem quer ser ajudada. Só para não falar também daqueles que morrem no exercício da ajuda, seja em acidentes ou como vítimas de ataques...
Isso de olhar primeiro para si é uma atitude humana... e certa. Ninguém no seu perfeito juízo pensa primeiro nos outros e só depois nele próprio. Por muito bons cristãos que nós possamos ser, se não formos os primeiros a preocuparmo-nos connosco próprios, ninguém o fará por nós. Eu sou a favor da ideia de que primeiro temos que nos ajudar a nós próprios e só depois, se for possível, é que vemos se os outros precisam de ajuda.
Atenção, eu não estou a dizer que fazem mal em ajudar os outros. Se querem ajudar, que ajudem. Mas não se esqueçam nunca da essência da natureza humana. Eu vejo muita hipocrisia em imensas supostas organizações dos direitos humanos e de ajuda huminatária, mas é claro que existe também e sempre quem seja de facto honesto e altruísta até ao ponto de se sacrificar a si próprio em prol dos outros.
Vejo em ti muito idealismo.

Abraço.

Unknown disse...

Já agora, o que tens a dizer acerca disto: http://bloguedofirehead.blogspot.com/2011/08/espanha-caritas-sustenta-imigrantes.html